Assisti Bates Motel antes de Psycho (1960)


Aos cuidados dos novos diretores e produtores, ideias e filmes clássicos podem sofrer com adaptações que não convencem. Talvez, seja esse o maior medo que o terror compartilha com clássicos de outros gêneros. Tenho certeza que, em algum momento, um fã incondicional de Psycho questionou com muita veemência a proposta de uma série sobre a conturbada vida de Norman Bates. Mas, parece que Bates Motel conseguiu convencer, conquistando a aceitação do público e alcançando médias importantes de audiência para o gênero de terror, algo incomum. Em 2013, estreou com audiência recorde entre o público-alvo do canal A&E, sendo a maior da história, com 1,6 milhões de telespectadores entre os adultos de 25 a 54 anos e o mesmo entre os de 18 a 49 anos. Totalizando as exibições nas múltiplas plataformas, Bates Motel alcançou impressionantes 4,6 milhões de telespectadores, superando os 4,1 da série Longmire.

Assisti recentemente, pela primeira vez na vida, a obra-prima de Alfred Hitchcock, de 1960 (filme lançado no Brasil no dia 1 de novembro de 1961). Sei que existe uma discussão entre o público sobre a duvidosa qualidade de alguns trabalhos seguintes dessa primorosa franquia, sobretudo a refilmagem de 1998, mas não poderei entrar no assunto, pois os posteriores filmes eu não vi. Estou chegando lá e, quando isso acontecer, talvez lance outro post expondo mais informações.




O interessante é que, quando assisti Psycho (1960), já acompanhava fielmente Bates Motel, série de Carlton Cuse, Kerry Ehrin e Anthony Cipriano, produzida pela Universal Television. Custei bom tempo para ver a obra de 1960, pois tinha a impressão de, por estar inserido dentro desse ambiente contemporâneo em BM, sentiria grande dificuldade de me conectar com a pegada sessentista. Até aquele momento conhecia a clássica cena no chuveiro, e só. Estava esquecendo que se tratava de Hitchcock. E Hitchcock jamais ficará datado.

Minha experiência foi das melhores. O que leva ao foco do post: se pensam em ver novamente ou pela primeira vez o filme Psycho (1960), façam a experiência de acompanhar as três temporadas já lançadas de Bates Motel. Os episódios são fluidos e você nem vai sentir o tempo passar. A cronologia de Norman Bates fica tremendamente interessante quando se pode acompanhar os principais aspectos de sua vida antes do domínio avassalador de sua personalidade monstruosa que o colocou em segundo lugar na lista dos 100 maiores vilões de todos os tempos da American Film Institute (AFI). Obviamente que ao buscar a linha temporal perfeita, você deve estar preocupado com os limites de cada contexto nas distintas produções - 1960 e 2013/2015 - , como eu estava. Mas, como dito anteriormente, Alfred Hitchcock jamais será datado. O cineasta britânico tornou-se um dos mais aclamados de todos os tempos justamente por sua impetuosa coragem. Inovou em Psycho como ninguém mais seria capaz na época, impondo reviravoltas alucinantes aos personagens envolvidos.

Logicamente, a família Bates não se frutificou apenas no domínio de sua genialidade. Anonimamente, Alfred Hitchcock comprou os direitos do romance de Robert Bloch, também intitulado Psycho, onde podíamos perceber uma atmosfera baseada nos atos do assassino de Wisconsin, Ed Geins, psicopata que inspiraria diversas obras e personagens de terror seguintes, como: o Dr. Oliver Thredson de American Horror Story (série); Dexter (série); American Psycho (filme); Thomas Hewitt de The Texas Chain Saw Massacre (filme) e tantos outros. Mas estamos falando da década de 1960. E, nesse contexto, só Hitchcock poderia inovar o cinema com tamanha maestria.

Por que assistir Bates Motel antes de Psycho?

Norman Bates



Tive um choque ao ver Norman Bates de Anthony Perkins: era definitivamente uma versão mais velha de Freddie Highmore, o Norman Bates da série da A&E. Podemos pressupor que houve um profundo estudo por parte de Freddie e, portanto, um resultado animador, pois os trejeitos são idênticos: a inteligência, a educação com a clientela, os olhares tímidos, o jeito prestativo de ser e, claro, a versão psicótica, ainda inconstante. Em Freddie temos um Norman lutando constantemente para se adaptar, ao lugar (motel/escola/cidade), aos exagerados controles da mãe, aos mistérios que recobrem sua personalidade, etc. Em Anthony, um Norman já inteiramente tomado pela personalidade controladora de Norma, diante de um estabelecimento esvaziado pelo desvio na estrada que já entrara em vigor.

Norma Bates

Se em Psycho (1960) temos os personagens Norma e Norman Bates em fase evoluída e demasiadamente fundidos, por assim dizer (risos), em Bates Motel nos encontramos com um íntimo desenvolvimento de sua mãe, degustando de toda a sua essência e tensão, como a falta de habilidade com relacionamentos, causada pelos traumas de um passado conturbado, por exemplo. Norma, brilhantemente apresentada pela atriz Vera Farmiga, assim como seu filho, também luta para se adequar ao entorno, administrando um motel e enfrentando as frustrações desse empreendimento sem grandes pretensões, um filho problemático e tragédias que teimam em fazer parte do seu cotidiano familiar.  Sei perfeitamente que Olivia Hussey também viveu Norma em Psycho IV: the beginning, mas esta é uma comparação exclusiva entre a série e o filme de estreia da franquia nos cinemas, obviamente pelas limitações de quem escreve, por não ter visto (ainda) todos os filmes.

Cenário




Ao comparar os cenários das duas produções, vemos um respeitável esforço dos produtores de Bates Motel em manter o aspecto sombrio e envelhecido da casa, localizada imediatamente atrás dos quartos do motel, interligados por uma longa escada. Portanto, mesmo contemporânea, com carros atuais, celulares e notebooks, Bates Motel optou acertadamente em preservar elementos clássicos, que despertam ainda mais nossa curiosidade  em compreender como se dará o terror.

Aspectos desencontrados


As informações destoantes que podemos observar na biografia de Norman Bates de Freddie Highmore e Anthony Perkins poderia ser encarado como uma problemática "escolha de roteiro", mas torna-se deliciosamente divertido. Em Perkins, por exemplo, temos dados diferentes sobre a mãe, a data e a forma como o pai de Norman morreu se comparados aos exibidos em BM. Se levarmos em consideração que se trata de um psicopata com mudança de personalidade buscando acobertar a fúria "da mãe", então nos tranquilizamos. O Norman de Hitchcock pode estar apenas criando cenários ilusórios aos hóspedes, mantendo uma aproximação afetuosa com as mulheres para cometer seus crimes encarnado em Norma Bates e sendo sigiloso quanto ao seu passado, claro. 

Da mesma maneira que fãs de Star Wars se divertem discutindo sobre a ordem de filmes que podemos assistir na certeza de que veremos as histórias se conectarem em dado momento, proponho-lhes esta experimentação, também na certeza de que o conjunto de fatos sobre a família Bates se retroalimentam, o que nos faz perceber o quão fiel Bates Motel vem sendo, sem deixar de ousar quando necessário. A continuação da série em 2016 está garantida em sua quarta temporada. Logo mais, confira trailers de Psycho (1960) e Bates Motel (primeira temporada):




Sobre janelas e caixas de sapato - Medianeras: o amor virtual em Buenos Aires

"Todos os edifícios têm uma parte que não servem para nada. Não dá para frente, nem para o fundo: a medianera. São superfícies que nos dividem e lembram a passagem do tempo, a poluição e a sujeira da cidade. As medianeras mostram nosso lado mais miserável, as inconstâncias, as rachaduras, as soluções provisórias. É a sujeira que escondemos embaixo do tapete. Só nos lembramos delas às vezes, quando, submetidas ao rigor do tempo, elas aparecem sob os anúncios".



Bauman escreve sobre os amores líquidos. Renato Russo cantarola que 'digam o que disserem: o mal do século é a solidão". Gustavo Taretto dirige Medianeras e revira ao avesso a ideia da virtualidade das relações. É fluida, superficial? Escorre pelos dedos tão logo a gente ache que há um quê de profundidade? Porque é assim que estamos: vivendo e trabalhando frágeis, nos ares, pelo wi fi, e pelos eletrônicos que não nos deixam respirar sem antes chegarem em novas e novas versões.

Mas nem tão rápido assim, ou nem tão fluido. O virtual se abriga no concreto, quando a distribuição do espaço físico contextualiza, logo no inicio do filme, a lógica de seus interiores: o filme começa ambientando Buenos Aires e sua absoluta falta de critérios na construção de apartamentos: "irregularidades estéticas e éticas".

Temos vários motivos para pensar que tudo não passa de grandes metáforas. Assim como as vidas e os relacionamentos construídos a la Bauman, "vivemos na cultura do inquilino. Construímos sem saber como queremos que fique. Vivemos como se estivéssemos de passagem em Buenos Aires". 

E aí a obra nos pede cautela de novo. Não, não podemos nos limitar a acreditar que se trata apenas de metáfora. Não são metáforas de uma cultura, mas uma cultura que se metaforiza em coisas bem tangíveis. Esses sentimentos, perdições, essa falta de bússola - ou melhor, de GPS -  é amparada em uma distribuição muito concreta da cidade, social e economicamente construída. É Harvey, agora, atualizando-nos de que a urbanização está intrínseca ao capitalismo, à "mobilização do excedente". E, complementaria nossos personagens: "O que esperar de uma cidade que dá as costas para o rio? Violência familiar, falta de comunicação, falta de desejo, depressão. E tudo culpa dos arquitetos".

Martin (Javier Dolas) mora em uma quitinete, vive no cyberspaço jogando videogame. Vai ao psiquiatra, tira fotos, quer buscar formas de redescobrir a cidade. Sua ex-namorada foi embora porque disse ser muito americana para aquele lugar. Deixou a cachorra. "A internet aproxima do mundo e distancia da vida", ele pensa, e põe seu login para começar o chat.

Mariana (Pilar López) é uma arquiteta que nunca construiu nada. Os relacionamentos também não deram certo. Ruiu o último, de quatro anos, com a reflexão: "como posso ser tão próxima de uma pessoa tão diferente?". "Conclusão estúpida: 140 dias, 35.040 horas com a pessoa errada".  Se a vida dela fosse um jogo, lhe "caberia o castigo de voltar cinco casas". Ela ocupa o espaço de vitrinista, porque o anonimato é que a deixa tranquila. Claustrofóbica, sobe 20 andares pela escada para jantar com colega de trabalho. Tem medo do elevador.

Melhor jogar "Onde está Wally", de preferência repetidamente.

E assim, Mariana e Martin, em meio a vários desencontros e manias, constroem suas janelas. E os dois destroem tijolos. Ela põe um piercign. Eles veem filme, cada um em sua caixa. E o filme é do Woody Allen. E então entram no bate-papo e trazem-nos a expectativa: foram feitos um para o outro e, no bate-papo, descobrirão isso tudo.

Só que não adianta serem feitos um para o outro se os espaços não lhes possibilitam o encontro. Finalmente se avistam em um bate-papo virtual qualquer: "Estranho falar com alguém com quem não sei nada". Ele pede: me ligue para que eu, finalmente, saia de casa e vá nadar amanhã. Quando Mariana vai anotar seu telefone, a eletricidade falta. E, afinal, em um mundo onde a crise econômica os leva a viver em caixas de sapato, eles dependiam de energia elétrica para aquele contato. E os dois vão para o mesmo lugar, com o intuito de comprar velas. Mas não se conhecem.

Voltam para suas caixas de sapato, os prédios sem janelas, até que a esperança começa a vir a tona. Eles ainda não se encontraram - e não vou ser a spoiler aqui :3. A vida continua entediante, mas "contrariando os códigos de edificação modernas, se abrem minúsculas, irregulares e irresponsáveis janelas que permitem que raios de luz iluminem a escuridão em que vivemos".

Se "virtualidade" significa "potência", diria que o filme não se trata da potência de um encontro romântico ou coisa que o valha. Mas talvez um pouco mais. É a potência de reproduzirmos humanidade, mesmo quando nossos atos se voltam à construção e confinamento em caixas de sapato, como bichos acuados, economicamente limitados e geograficamente perdidos. Podia ser a esperança de Harvey, quando questiona que "o direito à cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos pela mudança da cidade." 

Mas em Medianetas, a esperança ainda é mais como aquela sutil e importante mudança que fazemos abrindo uma claridade dentro de casa, ou nos surpreendendo com o alívio de perceber que o Wally consegue ser achado.

Trailer

Contracorrente

(muitos spoilers)
O filme se passa em uma praia de pescadores do oceano pacifico e narra uma história de amor. Miguel (Cristian Mercado) é um pescador respeitado na vila onde mora e trabalha. Casado com Mariela (Tatiana Astengo), está prestes a ganhar o primeiro filho, mas ele vive um romance com Santiago (Manolo Cardona), artista chamado pelos moradores de Príncipe Encantado (Veja mais aqui). Filme peruano de 2009 do diretor Javier Fuentes-León, trata de um tema sutil e delicado para a sociedade contemporânea: O AMOR.

A obra me levou ao livro “Dona Flor e seus dois maridos” do escrito brasileiro Jorge Amado, onde um terceiro indivíduo participa da relação de marido e mulher, só que nesse caso não é a esposa que tem outro, mas o marido que tem outro. Um amor homoafetivo, isso mesmo, ele namora com um outro cara. Vivendo em um vila onde todas as tradições sociais e culturais locais que regida por uma prática católica e por atitudes que definem a sua sexualidade, como assistir novelas ou ver futebol, perpassando pela definição de papeis sociais bem estabelecidos, ou seja, a mulher cuidada da casa enquanto o homem trabalha para sustentar a família.

Diante desse contexto Miguel mantêm um romance secreto com Santiago, no entanto a relação dos dois não pode ser publicizadas por Miguel não aceitar a sua homossexualidade e decidir seguir os preceitos de sua comunidade. Porém, a história de amor não se encerra em uma tragédia, pois Santiago morre em um acidente mais seus espirito permanece na praia e próximo a Miguel, o único que o ver.

Com essa nova condição Miguel prospecta manter a relação com sua esposa que terá um filho em breve e com o espirito de Santiago. Até porque o seu amor agora de fato é invisível e ele pode fazer tudo que desejava com Santiago, mas ninguém o verá. Talvez essa seja o maior tema do filme o amor invisível aquele que não incomoda que não traz danos nem olhares de outros.

Mas a estória de Miguel e Santiago é descoberta pela fofoqueira da vila que fala para os quatros ventos da sobre essa relação fazendo com que Miguel e sua esposa tenha problemas e Miguel seja socialmente evitado por seus amigos, nessa situação o protagonista nega a todos alguma relação com Santiago. E ai, nem o espirito aguenta e perde para não se mais procurado. Até mesmo devido um pedido que havia sido realizado por ele no primeiro momento em que viu Miguel depois de morto que encontrasse seu corpo e lhe desse um enterro no mar como era o costume local. Miguel encontra o corpo, mas para não se desfazer o seu amor invisível o que só decide fazer quando todos desconfiam de uma relação dele como pintor. 

O corpo encontrado por Miguel some no mar novamente e encontrado pelos pescadores, o que leva Miguel a dilemas e a se senti obrigado a fazer o que havia prometido a Santiago de jogar seu corpo no mar, mas para isso ele oficializaria todas as desconfianças de sua esposa e da sua vila.

O protagonista vive um dilema se aquele amor invisível se tornaria visível mesmo sem o Santiago vivo. Então ele resolve enterrar Santiago e dar visualidade a sua relação com o pintor. Aqui há uma divisão na vila onde alguns não desprezam Santiago e outros que os negam.

O filme tem uma fotografia simples mas muito bonita e traz a beleza natural dos seus atores, nos remetendo a realidade de uma vila de pescadores a pobreza, as dificuldades são secundárias no filme, pois o amor não acontece apenas em contos de fadas ou em comunidade abastardas. No entanto, a obra mostra a proibição do amor que não é aceito pela sociedade a liberdade de amar é evocada e exposta no filme de uma modo delicado, por isso a tentativa do pescador em manter os seus amores próximos e fazer todos felizes.

Em suma, entre a liberdade de amar e os que nos é permitido Miguel optar por ser livre e amar e não mais ser invisível.

Trailer:

Lava – Aquele curta da Pixar que é exibido antes do filme Divertida Mente


A intenção desse poste era falar sobre o filme Divertida Mente, mas isso pode ficar para depois. Irei falar sobre o curta metragem Lava que está sendo exibido no Brasil antes dos filme Divertida Mente e Minions que tem surpreendido muitos nos cinemas. - Eu fui um deles!
Em 2014 a Pixar anunciou a criação do curta “lava” que seria exibido nos cinemas juntamente com o filme Divertida Mente, tinha previsão de lançamento no Brasil para julho de 2015. No entanto, o filme foi lançado antes e com ele o curta.
Se pensarmos que a Pixar já fez insetos, carros, brinquedos, animais falarem, não será novidade ver um vulcão cantando no meio do oceano. Esse é o nosso simpático personagem conhecido com Uku, talvez uma referência o instrumento Ukulele hawaiano.
O curta é um clipe musical onde um vulcão solitário canta sua solidão e busca pela companhia de sua “vulcoa” e como toda boa história romântica cinematográfica o encontro dos dois não é tão simples, tendo eles que superar algumas barreiras.
O curta é dirigido por James Ford Murphy, que já trabalhou como animador em Vida de inseto, Toy Story 2, Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros. “De acordo com ele, o que o inspirou para fazer Lava eram a sua paixão pelo Havaí quando era criança e o sentimento que ele teve quando ouviu a clássica versão do cantor havaiano Israel Kamakawiwo'ole para a antológica canção "Over The Rainbow".”(AdoroCinema)

Confira aqui a música do curta em inglês. (a música ganhou versões por idioma) 

A Fonte das Mulheres


Não era só por água encanada.

Por que a luta de Leila configura a luta pela democracia?

Dirigido por Radu Mihaileanu (diretor de filmes como “Trem da vida”, “Um Herói do Nosso Tempo”, “O concerto”, entre outros), com roteiro de Alain-Michel Blanc e do próprio diretor; “A fonte das mulheres”, que foi lançado em 2011, na França, é um filme produzido por Luc Besson, Denis Carot e Gaetan David, distribuído pela Paris Filmes com classificação indicativa não recomendável para menores de 14 anos.