Terraferma

O cinema italiano, disse um famoso diretor, consegue ser popular e ao mesmo tempo de uma riqueza artística inestimável. É bem verdade que ele se referia a uma fase específica da produção cinematográfica daquele país, conhecida por “neorrealismo”. Ainda segundo o cineasta, de quem infelizmente não consigo recordar agora o nome, muitos filmes italianos relacionados a esse “movimento” foram capazes de aliar o sucesso de público ao sucesso de crítica de modo exemplar.
Herdeiro do “neorrealismo”, o último filme do diretor e roteirista italiano Emanuele Crialese “honra” a memória dos mestres daquele período, proporcionando belas imagens e trazendo um drama permeado de sensibilidade. Terraferma (2011) – Terra Firme, em português – conta a história de uma família de pescadores que mora numa ilha italiana, a qual passa a ser a “terra firme” de grupos de imigrantes africanos que buscam uma outra vida no continente europeu.

A familia de Filippo (Filippo Puccilo) acolhe em sua casa uma mulher grávida e seu filho, os quais estavam à deriva no mar depois de mais de dois anos numa viagem que deveria ir da Namíbia para Turim. Uma das idéias centrais do filme é o choque entre duas “leis”: a do mar, que diz que um pescador não pode jamais deixar um ser humano morrer afogado, e a da polícia costeira, que procura evitar a entrada de “pele negra” na Itália, e por isso recomenda aos pescadores que não ajudem os “clandestinos”.
Após acolherem a mulher e seu filho, Filippo, sua mãe e seu avô (Mimmo Cuticchio) passam a ser alvo de retaliações da polícia, que confisca seu barco de pesca e ainda faz ameaças de punições maiores. O conflito entre “a tradição e a lei” fica patente, por exemplo, na cena em que Filippo tenta passar por cima da decisão dos policiais e quase os agride.
O filme trata de maneira convincente temas muito atuais, como a migração intercontinental, o uso do turismo por comunidades carentes como estratégia de arrecadação de renda, o racismo e a prática abusiva do poder.
Além de uma bela história, o filme de Crialese traz ainda interpretações impecáveis. A atriz que interpreta a mãe de Filippo, a bela Donatella Finocchiaro, põe tanto realismo na situação dramática por que passa sua personagem Giulietta, que não há como não se comover quando ela toma nos braços a filha recém nascida de sua hóspede.
Um drama sensível, belo, e com a capacidade de nos fazer pensar sobre o modo como nos relacionamos com o outro, sobretudo o outro que é migrante, que em busca de melhores condições de vida para si e para seus familiares, “cruza” um oceano de dificuldades, preconceitos e incompreensões; tudo para encontrar a “terra firme”.  

Charles dos Santos     

Assista ao trailer

Buena Pregunta!

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