Desafio no Ártico

A vida dos esquimós, bem como seus hábitos, usos e costumes foram bem descritos por Franz Boas no texto um ano entre os esquimós, além de esmiuçar, descrever detalhadamente seus contos, lendas, crenças religiosas a mitologia dos esquimós.
Podemos analisar no filme "Desafio no Ártico" (Canadá, 2003) - digirigdo por Charles Martin Smith - uma gigantesca discrepância existente entre a forma de olhar de mundo dos esquimós e o olhar de mundo que tem o civilizado. As duas concepções de mundo se entrelaçam de maneira harmoniosa no decorrer do filme; mas em primeira estância a etnocêntrica do industrializado, representado na figura do piloto de cargas, toma fez em seu discurso, ele nem imaginava qualquer tipo de relação com esse povo. 

“Eu mal imaginava que em pouco tempo olharia para aquele pequeno sujeito sujo, de cabelos compridos e olhos brilhantes, com sentimentos de interesse caloroso, para não dizer amizade; mal imaginava a cordialidade com que seria acolhido em suas pequenas cabanas.”*
Percebe-se no filme a significativa transformação que acontece no protagonista, onde inicia com o desespero diante da situação, na qual, eles se encontram, até que ele percebe que a jovem esquimó parece ser segura o suficiente para controlar a situação e tenta sem desespero algum sobreviver em meio às adversidades.


O entrelaçamento entre as duas culturas é o ponto crucial do filme, entrelaço este que é expresso na relação entre as personagens principais do filme, uma convivência de afeto e compaixão.
A forma como a materialidade é mostrada no filme é imantada na figura do ex-militar da segunda guerra mundial, não obstante, ao decorrer da relação com a esquimó, que por sua vez demonstra total desapego as coisas materiais, ele começa a “abri os olhos” e amadurecer gradativamente.
Correlacionando o texto de Franz Boas Um ano entre os esquimós com o filme Desafio no Ártico, podemos observar uma relevante semelhança na maneira com que são tratados os povos Inuits; Boas se relaciona como ele mesmo diz “(...) com sentimentos de interesse caloroso(...)”, ou seja, com total respeito. No filme esse sentimento de amizade é conectado ao processo transformação da personagem principal. Lembro-me que na cena de inicio do filme o esquimó é estereotipado pelo grupo de cidadãos que ali estavam, do qual, faz parte o protagonista, onde no roteiro é enfatizada a relação de hostilidade desse sentimento. No entanto no final do filme apesar de ser decepcionante falando como espectador, depois de ter passado por tudo que ele passou inclusive a morte de sua companheira, o roteiro do filme torna a enfocar a relação, agora positiva de amizade entre o povo Inuits e o estrangeiro.
A diferença entre o tratamento que o civilizado tem com o “estranho” e a maneira hospitaleira com que o povo Inuits trata o estrangeiro chega a ser gritante. Exemplo dessa discrepância como já foi mencionada a hostilidade do protagonista com o esquimó no inicio do filme; e a forma com que ele é tratado pelo povo Inuits na hora que é explicitado a confiança dos parentes ao deixar que ele leve uma esquimó doente. É claro que nessa ocasião o interesse financeiro pelas especiarias oferecidas desperta a ganância do civilizado.
Essa hospitalidade Inuits também é narrada por Franz Boas no final do seu texto o entusiasmo, excitação com que o tratou ainda ele sendo um recém-chegado. “Quando cheguei, os homens não sabiam quem iria chegar e formaram uma fila (referência a cerimônia que é feita para recebe algum convidado). Mas, assim que descobriram um homem branco, o primeiro a visitar sua aldeia, eles se puseram a gritar muito alto, o que induziu as mulheres e as crianças a saírem das cabanas baixas. Todos começaram a dançar, gritar e cantar, uma balbúrdia que ainda soa nos meus ouvidos. A novidade --- “Qodlunaq! Qodlunaq!”, isto é, “ Um homem branco! Um homem branco!”--- tinha-se espalhado com incrível rapidez por toda a aldeia. Todos estavam ansiosos para ver o recém-chegado; as crianças se escondiam timidamente atrás das longas caudas dos casacos de suas mães, gritando com medo e excitação. Em suma, foi uma cena que vai estar em primeiro plano nas minhas lembranças da vida dos esquimós.”*
Analisando mais a narrativa que Boas faz do povo Inuits, podemos observar seu entusiasmo ao relatar e descrever os hábitos assim como as lendas desse povo. Desprovido de qualquer tipo de etnocentrismo, mas sempre observando com uma visão do outro, ou seja, Boas não expressa em nenhum momento a vontade de se tornar um deles. Descrição dos rituais, cerimônias relatos das lendas e dos contos enfim toda mitologia dos esquimós, dão sustentação a está maravilhosa e tão agradável narração, onde nós somos levados a imaginar cada minuciosidade descrita por ele.

*citações do livro: um ano entre os esquimós escrito pelo antropólogo Franz Boas.
PS.: este artigo foi publicado pela revista de sociologia Tela Crítica. Segue o link >> http://www.telacritica.org/ArtigoWillanderTelaCriticarevista7.htm

Assista ao trailer:



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