Em meio a tantos outros filmes
que primam pela qualidade técnica de seus efeitos, venho apresentar um filme
que por vezes hesitei em escrever sobre, talvez por me achar incapacitado de
expor tamanha complexidade, mas hoje resolvi colocar para fora o que vi em Cashback, ou parafraseando uma fala do
protagonista: quando assistir, eu não somente o vi, mas o senti.
Vamos à sinopse. Um estudante
de arte (Ben Willis), interpretado por Sean Biggerstaff, após um doloroso fim de relacionamento, percebe-se com
insônia. Sem conseguir dormir - e com muito tempo de sobra -, ele resolve
arrumar um emprego no turno da madrugada em um supermercado. Justamente por ser
um horário dispendioso, o tédio e a contagem dos minutos são os principais
rivais. Assim, cada um dos colegas de trabalho de Ben possui a sua forma de
combatê-los. Talvez pelo excesso de criatividade, talvez por ser um talento
real, Ben consegue parar o tempo, podendo andar contemplativo pelos corredores
e deixando a sua imaginação fluir naturalmente.
Enxergar
uma parcela de beleza em tudo. É com essa essência que a
imaginação de Ben é potencializada pelo seu talento artístico. Perceber,
capturar as coisas ou pessoas em lugares ou situações inusitadas faz com que
Ben, em seu momento de ócio movido muitas vezes pela insônia causada pelo fim
de um relacionamento absolva a passagem do tempo, onde cada segundo é percebido
e relatado. Cashback trabalha o
conceito de tempo irreal. Congelar o tempo. Reduzir a velocidade temporal
normal. Apenas pausar ou retardar um momento, para que a sensação que ele
causou dure mais... Quem nunca quis um dia ter esse tipo de habilidade? O
momento, a pausa no olhar, o segundo que antecede o beijo e o minuto da despedida,
devem ser valorizados a risco da perda da essência do amor romântico; talvez
essa seja a grande mensagem que o filme nos leva a refletir. Às
vezes o amor está escondido entre os segundos de sua vida.
Outra característica que faz
com que esse filme tome uma complexibilidade substancial é a utilização de um
elemento que por vezes é usado no cinema como apelação, a nudez. A nudez em Cashback apenas de explícita não é em
nenhuma situação pornografada, ao menos na imaginação de Ben, a sensibilidade
artística aqui impresso sobrepõe a qualquer tipo de sensualidade que não seja a
da própria anatomia do corpo feminino. O
filme brinca com o conceito de beleza predominante, o de que sempre há de
ter pessoas e lugares apropriados para que a beleza flua. Isso é sumariamente
satirizado pela existência da beleza inusitada que o filme estabelece.
O ponto alto do filme
encontra-se em seu roteiro criativo e principalmente na sua execução que prima
pela utilização de congelamentos de cenas e câmeras lentas. A linguagem
empregada durante a execução do roteiro ajuda a dar uma dinâmica ao enredo fazendo com que a história
flua de maneira sólida, mas que ao mesmo tempo lúdica. É bem
verdade que sua história não é lá das mais atrativas, ouso a dizer que nesse
sentido Cashback é bem previsível, no
entanto, estou falando de um filme europeu, e como a maioria dos filmes
europeus, o seu foco vai além do que os olhos superficiais podem ver. Há de se
destacar a sensibilidade do diretor Sean Ellis, que apesar de ser seu primeiro
trabalho em longa-metragem, demonstra uma dinamicidade digna dos grandes
diretores.
Comédia, Drama e Romance. Apenas
por esse acumulo e por não se encaixar nos estereótipos das categorias de
filmes que temos hoje, Cashback já
merecia um destaque no ramo roteirístico na arte de contar uma história.
Até a próxima com ótimos
filmes... Ou não...
Ficha Técnica
Título
Original: Cashback
País:
Reino Unido
Gênero:
Comédia, Drama e Romance
Ano:
2006
Diretor:
Sean Ellis
Curiosidade
-
O longa-metragem contém as cenas do curta-metragem Cashback, indicado ao Oscar
2004 e que serviu de base ao filme;- Sean Ellis escreveu o roteiro do
longa-metragem em apenas sete dias. As filmagens começaram seis semanas depois,
pois era o único período em que todo o elenco do curta estaria disponível;-
Estreia de Sean Ellis como diretor de longa-metragens. Fonte:
http://www.adorocinema.com
Prêmios
- Bermuda International Film Festival: Vencedor do Prêmio do Júri por melhor roteiro para o , também diretor, Sean Ellis.
- San Sebastián International Film Festival: Vencedor do Prêmio C.I.C.A.E. Award para Sean Ellis.
Assista a um trecho do filme: