Quer produzir um filme e falta grana? Conheça o CROWDFUNDING, ou o financiamento coletivo

E então você tem um projeto fantástico para produzir um longa, um documentário, ou um curta? Tem roteiro, sabe quem procurar para as diversas funções - da produção executiva ao marketing de divulgação. Fez pesquisas, conhece o assunto. É entusiasta pelo tema, ativista, militante. Tem tudo pronto na sua cabeça. Sabe até a roupa que vai usar no dia da pré-estréia! Só há um detalhe: falta verba para colocar em prática. Falta recurso, aliás,  até para comprar um tripezinho para seu celular com câmera. 

Esse é um problema sério para muitos potenciais e aspirantes a cineastas. Porque o homem é primata e o capitalismo é selvagem, haha, várias ideias não conseguem se desenvolver, ou acabam materializadas postumamente. Enquanto não se enfrenta diretamente as raízes do problema, há algumas formas de 'driblar' as dificuldades e conseguir colocar em prática o projeto cinematográfico dos seus sonhos, sem precisar enfrentar os editais (que também são alternativas interessantes, mas extremamente burocráticas). 

Uma delas é o crowdfunding. Nome esquisito para algo bastante simples: financiamento coletivo. Tipo uma vaquinha mais sofisticada - e mais abrangente - porque não apela apenas para os conhecidos, mas aos afinados e simpatizantes do tema que você pretende levar em discussão. 

A prática em si é relativamente recente. Surgiu em 2009, nos Estados Unidos, com projetos de toda ordem (não só de filmes). Ainda não popularizou no Brasil, mas já conseguiu trazer resultados interessantes. Sobretudo quando o tema diz respeito a um problema social, a uma bandeira de luta, a uma realidade que os colaboradores acreditam ser justa a divulgação, ou promissor o resultado. 

Aqui no Brasil, algumas produções conseguiram arrematar recursos importantes. Foi o caso de:

O Renascimento do Parto: segunda produção mais assistida no Brasil, o documentário que retrata a situação obstétrica do país e a questão do parto humanizado também foi recordista de crowdfunding, arrecadando R$ 143.350,00 em 60 dias, a maioria proveniente de ativistas brasileirxs. Segundo os realizadores do longa, o casal Érica de Paula e Eduardo Chauvet, o valor não deu para pagar por seus trabalhos na produção, mas ao menos serviu para quitar todas as dívidas referentes à produção. 

Belo Monte - Uma Guerra Anunciada: estreado em 2012, a realização desse documentário também foi possível graças às contribuições coletivas de 3500 pessoas, que totalizaram R$ 140 mil. As informações são do diretor André D'elia que, inclusive, vendeu sua moto na tentativa de financiar de forma totalmente independente o filme. O doc, que aborda a questão da usina hidrelétrica que tem sido construída no Pará e todos os impactos ambientais e sociais provenientes da empreitada, está disponível a quem quiser assistir online aqui . 

Há também alguns outros projetos em fase de finalização, mas que também precisam de contribuições, como é o caso do documentário Martírio que pretende expor as condições de vida absurdas dos Guarani-Kaiowá; o enfrentamento desigual que sofrem na luta pela permanência contra grandes 'proprietários' de terra amparados por um forte lobby ruralista. A produção tem sido feita pelo grupo Vídeo nas Aldeias. Quem quiser ajudar o documentário - e reforçar a exibição do genocídio que tem acontecido em Mato Grosso do Sul - basta acessar aqui.

Como abrir um crowfunding para produzir meu filme???

Para quem está interessadx em colocar suas ideias cinematográficas na prática e, com isso, pedir apoio por meio de crowfunding, há alguns sites brasileiros que possuem essa finalidade. Sob designações de 'comunidade', 'plataforma', 'sistema', etc, podemos encontrar algumas delas facilmente, enviar o projeto, e espalhar aos quatro cantos do mundo a campanha para que outras pessoas queiram aderir. O catarse  é o mais conhecido, mas ainda há alguns outros como: Juntos com você , Zarpante , ou o  Kickante, etc. 

Minhas ressalvas: 

É preciso salientar que essa prática tem raízes extremamente neoliberais. Não posso evitar o juízo de valor, so sorry, mas tentarei ser absolutamente prática com a questão. Acontece que, ainda que 'calçada' pela coletividade, o crowdfunding está aí para desenvolvimento de projetos pontuais e, portanto, figuram como paliativos e não flertam, nem de longe, com o grave problema da falta de acesso, da dificuldade em se trabalhar com cultura, e de se produzir cultura dentro de uma estrutura mercantilista e voltada ao lucro, onde os poucos que 'se dão bem' já foram previamente selecionados pela grande indústria cultural. Isso traz um empobrecimento e deixa muitas ideias legais à margem ou à dependência da 'sorte'. 

Jornalista, estudante, blogueira desnaturada e mãe do Javier.

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