Vicky Cristina Barcelona


Faz um pouco de tempo que assistir a esse filme e hoje tive vontade de assisti-lo novamente. Com certeza é um dos raros filmes que me interesso por assistir mais de uma vez – odeio assistir filme mais de uma vez – porém com “Vicky Cristina Barcelona” é diferente. Talvez isso aconteça por conta da minha verdadeira admiração pelos filmes do cineasta americano Woody Allen ou talvez por que esse filme, em especial, desperta em mim um verdadeiro redemoinhos de emoções e provoca as minhas convicções no quesito: relações amorosas.

Pois bem, em Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen, vem com uma proposta de bagunçar o sentido das relações. A força motriz do filme, o que move os personagens é a tão desejada e, ao mesmo tempo, tão inconstante paixão. Paixão no sentido visceral onde se encontram as loucuras por vezes ratificadas pela sociedade. 

Vicky Cristina Barcelona, conta a história de duas amigas que vão passar o verão na cidade de Barcelona. Logo no início do filme são apresentadas as personagens principais. Vicky (Rebecca Hall) é centrada, pratica, está em Barcelona para a conclusão de seu mestrado sobre a cultura catalã, pretende se casar em breve com seu noivo que ficara nos EUA. Cristina (Scarlett Johansson), ao contrário, é uma típica “alma de artista” é atriz e seu último trabalho foi em um filme de 12 minutos, e fotografa, é inconstante em suas decisões e livre para as paixões que a vida pode lhe oferecer. Dois personagens completamente opostos que já rende bons diálogos. Conhecem Juan Antonio (Javier Bardem), um exemplo de sedutor espanhol, pintor, que tem uma relação conturbada com sua ex-mulher, Maria Helena (Penélope Cruz), também pintora e com um gênio indomável. No encontro de Vicky e Cristina com Juan Antonio é onde a trama se desenrola, podemos dizer que é onde o filme realmente começa. Ele, como sedutor que é, tenta espojar sua sedução para as duas americanas em Barcelona. Cristina logo de cara se encanta pelo galanteador, mas sua amiga ainda resiste de início por conta de seu noivado, no entanto, cai nos braços da paixão. Juan Antonio começa um relacionamento com Cristina que logo é aguçado pela presença de sua ex-mulher Maria Helena. Começa aqui um triângulo amoroso consensual, (ou melhor, quarteto, contando com Vicky). Nas próprias palavras de Maria Helena, Cristina é o tempero que faltava na sua relação com Juan Antonio. Enquanto isso, Vicky tenta esquecer a noite de amor com Juan se concentrando no seu mestrado e dando atenção ao seu noivo, tentativa vã.
woodyEsta é a trama do filme. Woody Allen quis mostrar que as relações amorosas não são e não devem ser tão rígidas, secas e coerentes, pois quase todas são sucumbidas pela avassaladora paixão. Com cenas primorosas e uma fotografia por vezes irritante de tão colorida, Vicky Cristina Barcelona, me surpreendeu em certa medida. Estava esperando um filme típico de Woody Allen, mas o que encontrei foi um filme com uma pegada inegável do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Quem já assistiu algum filme do Almodóvar sabe do que eu estou falando. Woody Allen, em minha opinião, conseguiu imprimir o ar “caliente” da cidade, e com interpretações impagáveis, com destaque para Penélope Cruz, dei uma leveza e comicidade ao ambiente em que o filme se desenrola. Entretanto, sem a maestria de Almodóvar ao relatar relações conflituosas. Primeiro por que é perceptível que a visão de Woody Allen é de quem é totalmente de fora – é o preço que se paga ao filmar em cidades fora do seu rol comum – vale lembrar que antes desse filme Woody Allen gravou alguns outros filmes na Inglaterra. Segundo, pela proposta que o filme nos oferece, sentir falta de cenas mais calientes, é bem verdade que tem uma ou duas, no entanto, são de curtíssima duração. Outro aspecto interessante no filme é a mudança do núcleo da trama. No início se concentrava em Juan Antonio, ele que dava movimentação e dramaticidade as cenas. Mas ao longo do filme percebo que o personagem fica enfadonho e sem sentido ás vezes. Em um momento posterior entra em cena a figura de Maria Helena. Com uma interpretação impecável de Penelope Cruz (merecidíssimo o Oscar de melhor atriz coadvante de 2009). Maria Helena é o descontrole e a sacada genial de Woody Allen.
São três formas de se encarar a paixão. Vicky, por mais que possa se entregar a ela, sempre vai ser a centrada e a arrependida do dia seguinte (se é que vocês me entendem). Cristina, apesar de livre sexualmente e aberta a novas propostas, percebo uma inocência da ilusão que o amor romântico nos oferece. Juan Antonio e Maria Helena merecem um capítulo a parte. O dialogo entre eles chega a ser cômico de tão tenso. Esse é o casal que foram “feitos um para o outro, mas não para ficarem juntos” – palavras de Juan Antonio – um relacionamento conturbado que só sobrevive pelas brigas e desentendimentos. No entanto, há uma identificação entre os dois... Um é a inspiração do outro. A intensidade da relação dos dois é que dá o tom dramático ao filme.
Por fim, quem estiver à procura de um bom filme com a genialidade de um dos maiores cineastas de todos os tempos, recomendo que assista Vicky Cristina Barcelona. É bem verdade que tem roteiro perfeitinho demais e muito linear e com uma narração desnecessária por vezes, mas mesmo assim o filme dá conta do recado dentro da proposta que ele traz. Enfim... É um filme que ao final você é levado a dizer: “Caramba, que filme, hein!?”. É o mínimo que podemos esperar de uma obra de Woody Allen.
wiLLander NascimentO
Assista ao trailer:


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