O mês de maio já está
chegando ao fim, e falta pouco, bem
pouco, para o lançamento da segunda temporada de Orange is The New Black,
anunciada para o dia 6 de junho. Para quem, como eu, não sabe assistir séries
quando disponibilizadas por inteiro (leia-se: não tem a menor disciplina e
suspende completamente a vida para assistir todos os episódios de uma vez),
essa espera é de quase um ano. A primeira temporada foi ao ar no dia 11 de
julho de 2013.
Baseada no livro homônimo de Piper Kerman, a série original
do Netflix conta a história de Piper Chapman (Taylor
Schilling), uma fabricante de cosméticos, noiva e com a vida quase-toda nos
eixos, que é presa e condenada a responder por 15 meses um crime de
envolvimento com drogas, cometido no passado com a ex-namorada bonitona, Alex (Laura
Prepon). Essa é a história central, mas a graça mesmo ficou nas periferias: nas
histórias das tantas mulheres com quem ela topa ao entrar no presídio de
Litchfield, compondo todo um mosaico de situações - entre a vida prévia e a adaptação, entre isolamentos e convivências. E, claro, entre regras e improvisos.
O romance de Dayanara (Dascha Polanco) com
o policial bonzinho; os momentos divertidos de Olho Doido (Uzo Aduba) tentando
investir em Piper; os conflitos familiares da cabeleleira Sophia Burset
(Laverne Cox), que gastou o que não podia para investir na mudança de sexo, e
sua relação delicada com a esposa; a ex-viciada Nicky (Natasha Lyonne) e
seu quase romance com Lorna (Yael Stone), que, por sua vez, vive esperando o 'noivo'
que nunca aparece; a alegre Taystee (Danielle Brooks), que cuida da biblioteca
e, ao ser liberada, vive o dilema de se sentir 'deslocada' no mundo de fora; a
forte e sensível Boo (Lea Delarya), que se envolve em um triângulo amoroso; a
fanática religiosa Dogget (Tary Manning), a vilã da história, que foi presa por
matar a diretora de uma clínica de aborto. E, claro! A mais bambambam de
todas, Red (Kate Mulgrew - que já interpretou a capitã Janeway em Star Trek), que cuida da cozinha e se torna 'a mãe'
de muitas detentas. São tantos entrelaces complexos,profundos, que a única coisa que posso dizer em definitivo sobre absolutamente todas as personagens é que: nenhuma é completamente boa. nenhuma é completamente má.
Talvez justamente pelas tramas serem tão
envolventes, a produtora Jenji Kohan decidiu que, nesta segunda temporada, deve
dividir mais a atenção entre as personagens. Prometeu contar mais a história de
Red, de Olho Doido, de Boo, Yoga, entre outras. Além do mais, entrará em cena
uma nova personagem, e velha conhecida de Red, Yvonne Vee Parker (Lorraine Toussaint).
Mas não vamos também tirar o mérito da protagonista, que, em minha
opinião, tem diferencial importante: aquele aprofundamento *gradativo* na
personalidade, na medida em que ela começa a deixar 'o mundo de fora' e imerge
no universo ali. O episódio 5 da primeira temporada, em que ela abandona um telefonema
importante da carreira para correr atrás de uma galinha dentro do presídio, é
icônico: cai a ficha de Piper sobre o fato de que sua realidade não é a mesma.
No mais, quem imaginaria que a Piper comédia-romântica do primeiro episódio se
tornaria a Piper assassina-a-sangue-quente do último? Impossível absorver o fim
se não houvesse toda uma complexificação da personagem ao longo dos episódios
anteriores: o confinamento, as perseguições, as confusões (e incompreensões)
amorosas com o noivo Larry- interpretado por Jason Biggs, o eterno queridinho cheeser de American Pie - e a ex-namorada (de Piper), que só por acaso também está
confinada com ela na prisão. O negócio é que as outras histórias são tão
mais pesadas, que essa de Piper parece 'fichinha' - pelo menos até o último
episódio, quando sua trama sofre uma guinada e a gente fica naquela - ela matou
ou não matou?
Como disse, a série foi adaptada por Jenji Kohan - a mesma criadora de Weeds, a história de uma viúva que sustenta a família
vendendo maconha para os vizinhos ricos. Aliás, ao ver os dois seriados, dá para
perceber que Kohan soube escolher a pegada de suas personagens: a mistura
de comédia com drama, de crueza e leveza, de ironia e delicadeza. Ao menos no
que diz respeito à primeira temporada de Orange, deu muito certo (Weeds assisti
bem pouco). Em algumas entrevistas, Jason Biggs revelou que, cansado de fazer
comédias puxadas para o besteirol, o que lhe agradou no seriado foi - além da
possibilidade de interpretar um personagem um pouco mais profundo, o nome
de Jenji Kohan assinando a obra.
Na segunda temporada, segundo os anúncios do trailer e de
entrevistas espalhadas por atores, Larry terá uma trama mais paralela do que
ligada diretamente à Chapman. Chapman, por sua vez, já estará mais 'integrada'
ao mundo no presidio, sabendo jogar o jogo. Vai ser mais
durona e menos instável.
Muitos falam dos dramas individuais, anteriores ao confinamento,
como a grande bola da vez da primeira temporada, algo que inclusive deve se repetir na segunda. No entanto, creio que a
'sacada' é mesmo a ligação entre quem eram quando estavam lá fora com quem se tornam
quando estão ali dentro, presas, interagindo em meio a tantas diferenças de
classes, etnias, momentos e dissabores. A série não retira o realismo salgado dos presídios em quase
todas as partes do mundo - inclusive no Brasil: a exploração sexual, os abusos institucionais. Ela não vai poupar a sensação pouco agradável de assistir a mulher que engravida no
presídio e não terá direito materno algum. Aquela que comete suicídio porque não
aguenta a solidão. Ou a pressão de policiais corruptos, que a todo instante
driblam a própria infelicidade manipulando as vidas das fortes, e ao mesmo
tempo altamente vulneráveis, detentas do presídio federal. Tampouco a série nos poupará de ilustrar as regras de sociabilidade e as trocas
singulares não mais mercantis: objetos são trocados de acordo com o interesse
de ambas as partes - mecha de cabelo, shampoo, refeição. O que te faz despertar o interesse lá fora não significa absolutamente nada atrás das grades.
Mas nem tudo são dores e, por isso, mal posso esperar para tirar todas as dúvidas (que ficaram da primeira temporada), matar a saudade da linguagem e daquele estilo apaixonante que nos faz ter certeza de que o mundo é lasca, mas há (também) que rir para sobreviver nele. Nem que seja aquele sorriso amarelo alaranjado, que é o novo preto.
Mas nem tudo são dores e, por isso, mal posso esperar para tirar todas as dúvidas (que ficaram da primeira temporada), matar a saudade da linguagem e daquele estilo apaixonante que nos faz ter certeza de que o mundo é lasca, mas há (também) que rir para sobreviver nele. Nem que seja aquele sorriso amarelo alaranjado, que é o novo preto.
PS. Quem compareceu ao premiére de Orange no Brasil garantiu que a trilha sonora na segunda temporada também deve agradar. Para quem não lembra (e é muuuito difícil não lembrar) a primeira temporada nos envolve de cara já a partir de uma abertura brilhante ao som de You've Got Time, de Regina Spektor. E é difícil não pensar na série sem cantarolar, ao fundo, 'the animals, the animals, trapped trapped trapped 'till the cage is full...'.
PS. Por falar em abertura, vale uma curiosidade: sabe aqueles olhos e bocas que aparecem na primeira temporada? São de ex-presidiárias reais. Ou seja, se você (como eu) ficou tentando associar as imagens às personagens (porque algumas parecem mesmo!), pode ir procurando outro joguinho da memória até o dia 6.
Trailer da 2ª temporada