"Sabe o que é mais destrutivo que bombas nucleares? Palavras". Sobre o polêmico A ENTREVISTA (The Interview)


Numa solenidade marcada por um teste de lançamento de um míssil, uma adorável criança norte-coreana pega o microfone e começa a cantar um hino que deveria exaltar o povo de sua nação e comemorar aquele feito. Diante de milhares de norte-coreanos, ela, de expressão feliz, começa:

"Nosso amado líder e sábio. Ele é gentil, bondoso e forte.
Desejamos a ele felicidades, paz e amor.
E a única coisa que desejamos mais do que isso...
É que os Estados Unidos explodam em uma bola de fogo.
Sejam eles condenados à fome, e a mendigar.
E que sejam devastados por epidemias.
Que fiquem desamparados, pobres, tristes e com frio!
Eles são arrogantes e gordos!
Eles são estúpidos e perversos.
Tomara que se afoguem no próprio sangue e fezes.
Morra América, morra!
Oh, você não vai morrer?
Isto encheria meu pequeno coração de felicidade.
Que suas mulheres sejam estupradas por feras selvagens.
E os filhos forçados a assistir ".

The Interview (A Entrevista) se encaixa no gênero de comédia política. É uma produção norte-americana de 2014, dirigida por Seth Rogen (que também atua) e Evan Goldberg, e tem roteiro escrito por Dan Sterling. Para além de toda a polêmica criada em cima de sua divulgação, The Interview exagera na representação das culturas, sendo uma comédia escrachada, superficial e comum. Com algumas passagens engraçadas e outras exageradamente desnecessárias (como o exemplo do hino acima), representa para este que vos fala uma produção extremamente banal, de conteúdo frágil e piadas pouco inteligentes (acredito que eles não estivessem preocupados com qualquer elaboração mais sofisticada mesmo). Encontrou claramente uma sobrevida supervalorizada na repercussão negativa que ganhou a partir de inúmeros grupos da sociedade. Diferentemente do que se pode acreditar, os elementos de todo o sarcasmo presentes na trama também atingem os Estados Unidos, mas fixam-se particularmente de maneira exaustiva na ditadura norte-coreana. E esse é um aspecto importante.


Estamos cansados de ouvir falar das polêmicas em torno da produção, que chegou a ter seu departamento de marketing comprometido e estreias canceladas por conta de ameaças feitas por hackers, que ironizavam o filme e prometiam sérias ações caso o lançamento fosse confirmado: incluindo ataques aos Estados Unidos (utilizaram como referência, inclusive, os catastróficos atos terroristas do 11 de setembro). Uma situação instável se impôs. Trocas de acusação entre Estados Unidos e Coréia do Norte foram rapidamente alimentadas.

Mas The Interview é um filme completo no que se refere a esnobar qualquer um dos lados. O culto ao mundo das celebridades norte-americanas está lá, escancarado no famoso programa de entrevistas de Dave Skylark (James Franco), uma estrela jornalística sensacionalista que ganha audiência às custas de problemas que assolam os famosos. Eminem esteve em seu programa, declarando que é gay (uma ligeira crítica aos grupos homossexuais que se puseram contrários ao universo de suas letras, que seriam ofensivas). Assim como suas celebridades, o perfil da política americana também foi fortemente atingido. Exemplo disso é o arrependimento de Dave quando queria machucar o ditador, ao perceber que este poderia ser um cara legal, refém do isolamento de suas obrigações familiares, e que os Estados Unidos estão sempre se metendo nas culturas dos outros, como forma de defender seus interesses egoístas. 

Sook (Diana Bang), Aaron Rapoport (Seth Rogen) e Dave Skylark (James Franco) em fuga.

Uma trama não muito sofisticada. A partir do sucesso do programa de Skylark, seu produtor, o competente e incansável Aaron Rapoport (Seth Rogen) começa a ter dúvidas sobre os caminhos que trilha na televisão, justamente após completar seus 1.000 episódios liderando a atração nos bastidores. Instável com a banalidade cada vez mais acentuada de entrevistas, Aaron espera mudar de vida profissional, fazer coisas mais sérias, que envolvam política, planejando quadros mais marcantes e simbolicamente mais ricos e atuantes ao país. Convencendo a estrela Dave Skylark dessa proposta, indicando que as pessoas estariam saturadas de tanta porcaria na grade e clamando por quadros mais maduros, Aaron vê como possível uma entrevista com Kim Jong-Un (interpretado por Randall Park), o ditador da nação mais isolada da terra. Quando assimila a ideia, Dave Skylark toma conhecido de que Kim é seu fã, percebendo aí a abertura que precisava para realizar a entrevista do século. Sabendo das tratativas bem sucedidas entre jornalistas e ditador, a CIA vê então a oportunidade de ouro para pôr fim ao "reinado macabro" que estaria impondo miséria total ao povo norte-coreano. A CIA, que tem sua missão liderada pela ótima atriz Lizzy Caplan, faz o recrutamento dos jornalistas que, agora, possuem a difícil tarefa de assassinar o ditador.

Dave Skylark (James Franco) e Kim Jong-Un (Randall Park) juntos. 

O filme ficará marcado por suas polêmicas extra-sala de cinema, e só. A trama, que diverte em alguns momentos, rapidamente se apagará da sua memória, como aquele filme que se vê sem intenção, quando não se tem nada pra fazer num fim de tarde, em um canal qualquer. A exagerada atuação de James Franco, com caras e bocas tão artificiais que beiram o ridículo (aspecto destacado por inúmeros sites) já dá mostras das intenções do filme: ser uma produção banal de comédia obscura ruim e sem compromisso.

Confira o trailer!

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