Uma das regras básicas em
Antropologia é que “comer” é uma necessidade biológica, mas o “como comer” é
uma construção sociocultural. Comer não é um fato social, lembrando o bom e
sempre incômodo Durkheim; é, por outro lado, uma carência inscrita no organismo
das pessoas; e de natureza totalmente diferente é o que as pessoas fazem com
essa carência.
Desse modo, há indivíduos em
comunidades rurais espalhadas pelo Brasil que costumam almoçar “muito cedo”, às
nove ou dez horas da manhã; há também pessoas que não entendem a janta como o
consumo igual daquilo que fora posto no almoço; a janta tem uma “cara própria”,
que se distingue daquelas do café da manhã e da segunda refeição diária.
Quis fazer essas divagações
antes de escrever a respeito do filme que me proponho a comentar porque,
primeiro, em minha opinião há a necessidade de um olhar mais atento para o ato
de comer e de tudo que o envolve, e, segundo, Soul Kitchen (Alemanha, 2009), do
cineasta turco-alemão Fatih Akin, trás à baila algumas questões relacionadas ao
modo como comemos na contemporaneidade, quando a pressa e um pragmatismo
pungente nos fazem perder de vista a gama de sentidos que há na partilha dos
alimentos.